Itaú e Unibanco, Real e Santander, Brasil Telecom e Oi, Totvs e Datasul, Varig e Gol. Essas são apenas algumas das fusões e/ou aquisições que aconteceram no Brasil nos últimos anos. Ao que tudo indica, a tendência de concentração é irrevogável e deve ganhar ainda mais intensidade no próximo ano. A Tecnologia da Informação apresenta-se como um componente fundamental em processos desse tipo, afinal, cabe ao CIO manter o funcionamento das duas operações e, simultaneamente, integrá-las.
“É preciso ter um bom jogo de cintura para manter todos os pratos girando e ao mesmo tempo convergir. Não adianta mantê-los isolados”, compara Ricardo Chisman, responsável pela área de tecnologia da Accenture. A analogia ilustra bem o papel que cabe aos diretores de TI quando acontece uma fusão. Como obstáculo, a primeira prova de fogo pela qual passa o CIO em muitos casos é a falta de comunicação prévia a respeito do negócio.
Muitas vezes, diz Pedro Bicudo, sócio-diretor da TGT Consult, a área de tecnologia da informação não é vista como estratégica e, por isso, não é informada sobre o possível negócio ainda durante as conversas entre as duas partes e, por isso, não pode estabelecer um plano de ação prévio. “No último minuto o CIO é informado que o concorrente foi comprado e que ele terá que lidar com duas equipes. Isso é muito comum”, ressalta.
Gente que faz
E em uma situação de fusão ou aquisição, a tecnologia, mais do que em outros momentos, tem de se posicionar como uma área fundamentalmente aliada aos objetivos finais do negócio. “O nível de necessidade de TI numa situação de fusão e aquisição tornou-se crítico e a dependência de ter operações integradas e alinhadas ficou mais forte”, analisa Chisman.
O executivo da Accenture destaca que a tecnologia é um aspecto que não pode ser deixado em segundo plano, porque é ela que permitirá, do ponto de vista financeiro e operacional, que a transação ocorra.
Para Fernando Meirelles, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP), o alinhamento da TI com o negócio tem importância especial. Isso porque, na opinião do professor, a estratégia que o CIO adotará para criar a infra-estrutura tecnológica da nova empresa depende das respostas que essa aproximação trouxer. “O fator número um é definir qual é a estratégia desse novo ‘bicho’, formado por uma série de partes e ver qual é a melhor tecnologia que se alinha com isso”, ensina o professor.
O raciocínio é lógico: somente após entender exatamente o que se pretende com a fusão ou aquisição, o CIO terá as informações necessárias para dar início ao planejamento da integração de ambientes de TI com tamanhos, sistemas legados e culturas distintas. Dependendo da resposta, o executivo decidirá por aproveitar a estrutura de uma das empresas, usar o melhor de cada uma delas ou, ainda, começar do zero, construindo uma nova infra-estrutura.
De acordo com Meirelles, em cerca de 40% dos casos de fusão, a solução é optar por algo novo. “Normalmente quando se junta empresas, as ambições são outras, os interesses são outros, o tamanho é outro, o que exige outro porte de sistema integrado de gestão, arquitetura e de estrutura de pessoal”, justifica.
Manda quem pode
É certo que em um processo de fusão ou de aquisição, um dos lados envolvidos terá mais força na tomada de decisão. E isso faz com que, muitas vezes, a escolha do novo modelo tecnológico se dê pela lei do mais forte e não necessariamente levando-se em consideração a qualidade.
Para Bicudo, essa escolha tendenciosa acontece por uma decisão do CIO de permanecer em uma zona de conforto, mantendo sistemas e soluções que ele já conhece e sobre os quais já conhece limites e possibilidades. No entanto, ressalta o diretor da TGT, essa postura é arriscada, afinal, uma negociação que resulta na união entre empresas tem como objetivo criar um diferencial competitivo para a nova companhia. E isso ocorre, muitas vezes, com a absorção da inteligência do concorrente que tem na tecnologia sua forma mais técnica de expressão.
“Você quer comprar o diferencial competitivo, mas se a TI partir do princípio de migrar todo mundo para o sistema da compradora, o negócio pode perder esse diferencial”, pondera. Por isso, a orientação de Bicudo é que, antes de começar o processo de integração em si, a equipe de tecnologia faça um mapeamento do ambiente de todas as empresas envolvidas no negócio.
E aí está outro grande desafio para os gestores de TI, enumera Frank Kenney, diretor de pesquisas do Gartner para aplicações estratégicas e governança. Segundo ele, falta às empresas documentar suas práticas e processos da área de tecnologia. “Diversos processos simplesmente não são visíveis e algumas aplicações também não. Você pode ter diferentes versões e configurações do SAP, por exemplo, em uma mesma empresa. Muitas companhias não sabem o que têm, porque os processos não são documentados”, afirma Kenney. “CIOs devem começar a fazer o que é preciso fazer: atualizar portfólio, processos e documentação, mesmo se não estão vivendo um momento de fusão”, completa.
O processo de fusão pode ser uma boa oportunidade não apenas para que os CIOs comecem a documentar suas estruturas de TI, mas também para analisar novidades e dar pequenos saltos tecnológicos. Além disso, caberá ao gestor de TI verificar quem são os fornecedores das duas corporações e identificar possíveis duplicidades e concorrentes prestando os mesmos serviços.
“Nessa hora, a TI tem de estar ainda mais perto do negócio, para não correr o risco de pegar uma tecnologia que pode ser nota 10, mas que não tem nada a ver com o novo negócio”, orienta Meirelles.
O principal alerta de Bicudo é que a área de TI não perca o timing da fusão para fazer o planejamento e as mudanças necessárias para que tecnologia acompanhe – e dê suporte – à nova perspectiva que a direção planeja dar ao negócio.
“Quanto mais rápido conseguir fazer a fusão, desde que com planejamento, melhor, porque o mérito desse processo é unificar contratos, eliminar número de licenças e redundâncias, ou seja, poder fazer uma negociação melhor”, observa o diretor da TGT Consult.
Fonte Computerworld
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